A chilenização da Tam – Revista Istoé Dinheiro
A chilenização da Tam
Sob o comando de Enrique Cueto, a Latam impõe uma administração mais austera à maior companhia aérea brasileira, cortando até as balinhas.
Por Guilherme BARROS e Marcio ORSOLINI
Uma das marcas registradas dos voos da TAM é a distribuição das balas Butter Toffees antes de o avião decolar. Uma ideia do próprio comandante Rolim Amaro – o empresário que transformou a TAM de uma modesta companhia área regional em uma operadora de expressão nacional –, ela era um símbolo do estilo da empresa tanto quanto o tapete vermelho e a recepção aos passageiros na porta do avião pelo comandante. Pois essa parceria de 11 anos com a argentina Arcor, a fabricante das balas, deve acabar ainda no primeiro semestre deste ano. Esse fato, aparentemente banal, pode ser considerado um símbolo dos novos tempos vividos pela TAM. Desde que anunciou a fusão com a LAN em agosto de 2010, que deu origem à Latam, maior companhia área da América Latina, o estilo chileno, mais austero, vem prevalecendo e se impondo na maior empresa de aviação comercial do Brasil.
Negócio em família: (da esq. para a dir.) Maurício Rolim Amaro, Enrique Cueto, Maria Cláudia Amaro
e Ignácio Cueto no anúncio da fusão de TAM e LAN, em agosto de 2010.
Só com o fim da distribuição das balas, a TAM vai economizar R$ 1,5 milhão anualmente. Essa não é, no entanto, a única medida tomada pelos chilenos que afeta as operações da TAM. Eles também devem eliminar a primeira classe, oferecida em voos internacionais. Na LAN, ela nunca existiu. A Latam deve optar ainda pela aliança com a aérea OneWorld, deixando de lado a Star Alliance, da qual a TAM faz parte, em outra demonstração de força dos chilenos. Além disso, a Latam vai centralizar as compras de novos aviões. Afinal, quanto maior o pedido, menor o preço pago por aeronave. Por fim, vale lembrar que a Latam será comandada pelo chileno Enrique Cueto, que é chamado no seu país e por seus funcionários de “el jefe”. O empresário terá um papel crucial na aviação brasileira e influenciará nas decisões que norteiam a TAM.

“A LAN tem uma malha menor que a TAM, mas é muito mais rentável”, afirma um analista. “Uma tem muito a acrescentar à outra, mas os chilenos não querem perder dinheiro.” Em 2009, quando Barroso assumiu a presidência, o lucro da companhia foi de R$ 1,3 bilhão. Em 2010, caiu para R$ 600 milhões. Na segunda-feira 13, a TAM divulgou os resultados referentes a 2011: um prejuízo de R$ 335 milhões. Já a LAN fechou o ano passado com um lucro de R$ 600 milhões. Postos em perspectiva, no entanto, os resultados obtidos na gestão de Barroso não podem ser considerados exatamente desastrosos. Desde 2008, quando estourou a crise financeira global, as companhias aéreas enfrentam uma série de dificuldades para manter o balanço no azul. Seus resultados são afetados pelo aumento dos gastos com combustível, de uma forma global, e com o impacto da valorização do dólar, no caso específico do Brasil. Agora, Barroso prestará contas a “el jefe”.